Saiba como as descobertas de um estudo que comparou as duas técnicas pode ajudar você a tomar a decisão certa
Difícil achar um homem com mais de 50 anos que não manifeste algum aumento de volume da próstata. Se para a maioria o volume maior não causa problemas, para outros pode causar dificuldade para urinar, enfraquecimento do jato, retenção da urina, infecções e até incontinência.
Por que? Quando cresce, a próstata comprime a uretra, o canal por onde a urina é eliminada e gera os sintomas descritos. A hipertrofia pode pressionar a bexiga, propiciando uma sensação constante de que é necessário ir ao banheiro. É um dos sinais mais comuns de hiperplasia prostática benigna (HPB), a doença associada ao aumento problemático.
A estimativa é de que 30% dos homens com HPB precisarão ser submetidos a algum tipo de tratamento para reduzir o volume da glândula e eliminar ou minimizar os sintomas.
Até 2014, a principal técnica para fazer essa correção cirúrgica era a Ressecção Transuretral da Próstata – RTU. Nesse ano, a embolização arterial da próstata (EAP) foi aprovada pelo Conselho Federal de Medicina com a mesma finalidade.
Muitos médicos oferecem as duas opções ao paciente. Nesse momento, cabe se perguntar quais são os aspectos que devem ser considerados para decidir com segurança entre a ressecção transuretral convencional e a embolização.
O primeiro passo é se certificar das restrições existentes. De modo geral, a embolização não deve ser indicada a homens com câncer de próstata, para aqueles que passaram por radioterapia na pélvis ou que tenham alergia grave ao contraste iodado. Existem outros tratamentos que podem ser utilizados em todas essas situações.
Nas situações em que o paciente apresenta alguma disfunção na bexiga, órgão que armazena a urina, a embolização também pode ser aplicada. Porém, é importante fazer algumas ressalvas. Se os sintomas que incomodam forem decorrentes do problema na bexiga e não do volume aumentando da próstata, o resultado do procedimento pode não ser tão efetivo e há chance de os sintomas voltarem. Além disso, há circunstâncias em que a associação das alterações de próstata e bexiga piora o quadro.
HÁ DIFERENÇA NO TIPO DE ANESTESIA E TEMPO DE INTERNAÇÃO?
A resposta é sim. Na RTU, a anestesia é peridural, raquidiana ou geral e o indivíduo fica internado por dois a três dias. O sangramento pós-cirúrgico também é maior.
Na embolização, a anestesia é local, com ou sem sedação para maior conforto do paciente, e o indivíduo pode voltar para casa no mesmo dia.
OS RESULTADOS DE CADA MÉTODO SE EQUIVALEM E QUAIS OS EFEITOS COLATERAIS?
Para responder questões tão importantes com o rigor científico que elas exigem, um grupo de pesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) fez um estudo comparativo entre as técnicas. O trabalho (clique aqui para ler na íntegra)
https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00270-015-1202-4
foi publicado em 2016 pela revista científica Cardiovascular and Interventional Radiology (CVIR) e mereceu da publicação o título de melhor estudo do período.
Por 12 meses, especialistas das áreas de urologia e radiologia do HC/FMUSP observaram 30 pacientes submetidos à ressecção transuretral e à embolização da próstata. Eles avaliaram o funcionamento da bexiga e da uretra, o fluxo urinário, a redução no volume da próstata, os efeitos colaterais e o impacto de tudo isso na qualidade de vida.
O estudo confirmou a segurança e eficiência das técnicas e revelou detalhes sobre o seu desempenho. A conclusão do grupo foi que a RTU proporcionou maior força do jato urinário e teve maior impacto na redução do tamanho da próstata. Mas também causou maiores efeitos indesejáveis. Todos os pacientes operados com a técnica, por exemplo, passaram a ter ejaculação retrógrada (em vez de ser expelido, o sêmen é conduzido à bexiga e eliminado na urina). Além disso, 26% dos indivíduos tratados por RTU apresentaram incontinência urinária transitória.
Entre os que fizeram embolização da próstata, não foram registrados casos de ejaculação retrógrada e nem de incontinência.
No caso de os sintomas voltarem, é possível refazer a cirurgia? Segundo o radiologista intervencionista Francisco Carnevale, professor da FMUSP, é recomendável que a RTU seja feita uma única vez porque é mais agressiva e sua repetição eleva o risco de lesões. Como é minimamente invasiva, a embolização pode ser realizada mais de uma vez, se não houver contraindicação.