Em dezembro de 2016, Luís descobriu um tumor avançado no fígado. Doze meses depois, com a ajuda de alguns dos recursos mais modernos da medicina, estava livre da doença. Conheça sua história
Luís S.C., 65 anos, jornalista, dois filhos adultos, é daqueles indivíduos que prorrogam ao máximo a ida ao médico para exames de rotina. Vai depois de muita insistência da família. Até aí, nada a estranhar. Boa parte dos homens ainda precisa de um empurrão para cuidar preventivamente da saúde. Foi numa dessas visitas ao seu cardiologista e clínico geral que recebeu a notícia de um achado preocupante. O ultrassom mostrava a imagem de um nódulo avantajado, com cerca de dez centímetros, no fígado. Há dois anos Luís não fazia exames.
Como era necessário investigar mais, Luís procurou um oncologista. Foi submetido a novos exames de imagem (ressonância magnética) e, posteriormente, a uma biópsia. Também fez exames de sangue específicos para medir marcadores tumorais (alfafetoproteína). Os testes revelaram a identidade do inimigo – o carcinoma hepatocelular, originário do fígado e, felizmente, a ele restrito. O tumor não havia se expandido para outros órgãos.
Luís estava impressionado por nunca ter percebido sintomas que o levassem a suspeitar que algo não estava bem. Jamais sentira incômodo além de um estufamento gástrico eventual. O médico explicou: em geral, os tumores de fígado só dão sintomas por causa da localização ou tamanho. Os mais comuns são perda de peso e de apetite, fadiga, fraqueza. Com menor frequência, a pessoa pode sentir suores noturnos, febre e dores no abdômen, principalmente no lado direito. Em geral, crescem silenciosos. A maioria só é descoberta em exames de rotina, exatamente como aconteceu com Luís.
A origem do tumor, disse o oncologista, estava relacionada ao fato do paciente ser portador de doença hepática crônica (cirrose). Provavelmente, sequela do consumo de bebidas alcóolicas ou da hepatite C, apesar de tratada e vencida. Todas essas condições aumentam os riscos de tumores.
Feito o diagnóstico, era necessário “bater rápido, bater forte”, como dizem os oncologistas, para controlar o crescimento do tumor e obrigá-lo a diminuir. Pelo avanço da doença e a idade de Luís, ele não se qualificava para a remoção cirúrgica imediata do tumor ou para o transplante.
A equipe de especialistas optou por uma alternativa oferecida pela radiologia intervencionista, a chamada quimioembolização transarterial. Por meio de um cateter inserido pela virilha, o especialista injeta medicamentos associados a pequenas partículas embolizantes nas artérias que irrigam o tumor. O ataque tem duplo efeito – o remédio mata células tumorais no local onde estão e fecha os seus canais de nutrição. Com isso, progressivamente, as células morrem e formam uma massa de tecido a ser reabsorvida pelo organismo. Esta técnica pode permitir que pacientes com contraindicações para a cirurgia ou o transplante possam ser novamente avaliados para serem submetidos a esses mesmos tratamentos.
Os métodos intervencionistas têm desempenhado papel muito importante no tratamento de tumores do fígado, especialmente em casos como o de Luís. Seu arsenal inclui técnicas guiadas por imagem, como a ablação percutânea (uma agulha é inserida no tumor para tratá-lo usando calor extremo), radiofrequência ou eletroporação (corrente elétrica de alta tensão). Há ainda as embolizações, como no caso descrito, e a radioembolização, que consiste na inserção de microesferas radioativas diretamente na circulação do tumor para retardar seu crescimento ou fazê-lo diminuir. Cada um desses recursos, se bem indicado pela equipe médica em condições bem definidas, contribui substancialmente para melhorar a qualidade de vida e as chances de vitória sobre o câncer.
Luís submeteu-se à quimioembolização duas vezes ao longo de cinco meses e tomou medicamentos orais. O resultado foi uma boa redução da massa tumoral. Quando diminuiu para pouco mais de 2,5 centímetros, ele foi operado para remover cerca de 60% do fígado. Respirou aliviado quando soube que o órgão se regeneraria em cerca de dois meses e funcionaria normalmente. Mas o tratamento não terminou aí. Luís precisa, agora, caprichar no estilo de vida. Dormir bem, dieta saudável e exercícios ajudam, e muito, a manter o corpo saudável.