radiologia intervencionista

COMO A RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA PODE MUDAR A MEDICINA

A associação entre exames de imagem e métodos minimamente invasivos está transformando a forma de diagnosticar e tratar uma ampla variedade de doença e também o relacionamento entre os médicos

Uma das áreas mais recentes da medicina, a Radiologia Intervencionista apresenta uma evolução impressionante. Não é exagero afirmar que tem o mesmo potencial de romper paradigmas que se vê nos estudos sobre genética ou células-tronco. Nos próximos anos, seus avanços poderão transformar completamente o diagnóstico e o tratamento de diversas condições.

Antes de discutir o futuro desse campo, vamos defini-lo e fazer uma breve retrospectiva. A Radiologia Intervencionista consiste no desenvolvimento e aplicação de imagens para guiar o uso de técnicas minimamente invasivas no diagnóstico e tratamento de uma ampla variedade de condições. Desse arsenal fazem parte, por exemplo, o cateterismo e a embolização de tumores.

Quanto ao aspecto histórico, podemos dizer que tudo começou em 1895, com a descoberta dos raios X por um físico alemão. Três décadas depois – e depois de muita tentativa e erro – a combinação dos raios X com o contraste intravenoso resultou no exame de angiografia, o que permitiu um progresso sem precedentes na compreensão do funcionamento do sistema nervoso, dos tumores e de malformações arteriais e venosas. Não passou muito tempo até que um médico russo avançasse um pouco mais. O que ele fez? Inseriu um cateter em seu próprio braço, com a ajuda de fluoroscopia, com a intenção de guia-lo até o coração e, lá chegando, investigar o átrio direito. Na fluoroscopia, um feixe de raios-X atravessa o corpo e, em vez de ser registrado em filme, como se fazia até então, passou a ser exibido em uma tela fluorescente. Era o início do cateterismo. Posteriormente (1953), o sueco Sendinger foi quem descreveu a técnica da tríada usando a agulha de punção, o fio-guia e o cateter para realizar os primeiros cateterismos vasculares periféricos.
O progresso continuou. Nos anos 1940, o cateterismo evoluiu, levando ao maior conhecimento da hemodinâmica do coração, mostrando – e corrigindo — a perfusão sanguínea das artérias, no funcionamento das válvulas e do músculo cardíaco. Nas décadas seguintes, o método foi sendo aperfeiçoado com a possibilidade de navegar distâncias maiores no organismo sob a orientação de linhas-guia e com o surgimento de dispositivos cada vez menores e mais precisos para serem inseridos no corpo com a ajuda ferramentas específicas. Surgiram pequenos balões para desentupir artérias, endopróteses para mantê-las abertas e microesferas contendo medicamentos, entre outros recursos.

A expansão desses recursos inovadores para diagnóstico e tratamento em áreas como a oncologia, a hemodiálise, os transplantes, a pediatria, a neurologia, a urologia e a ginecologia e obstetrícia foi rápida. Atualmente, a maioria dos grandes hospitais tem salas com equipamentos específicos para a prática da Radiologia Intervencionista. Nesses locais são realizados procedimentos que vão da coleta de fluidos intravasculares de diferentes órgãos à remoção de coágulos cerebrais ou correção de aneurismas de aorta por via endovascular, em vez de cirurgias abertas. Também é frequente a embolização da próstata, de miomas e diversos tumores com excelentes resultados. Graças aos novos métodos, tumores hepáticos antes inoperáveis podem ser reduzidos e, posteriormente, operados. Menos invasivos, os recursos da Radiologia Intervencionista reduzem as chances de infecções e podem encurtar o pós-operatório.

Após este breve panorama da especialidade, podemos falar do que vem pela frente. Ao redor do mundo, muitos centros de pesquisa trabalham no desenvolvimento de dispositivos e métodos inovadores para alcançar os pontos de mais difícil acesso do corpo humano e criar alternativas terapêuticas.

Diante desse cenário, não é uma ousadia afirmar que, em um futuro próximo, a Radiologia Intervencionista poderá modificar completamente o tratamento de diversas condições. Além dos avanços tecnológicos, isso também dependerá da disposição de médicos em rever seus papéis. Se antes o Radiologista era o profissional que manejava os equipamentos sofisticados, agora ganha maior participação no diagnóstico e na tomada de decisão das melhores condutas para o paciente. Por isso, fora o desafio de aprender a lidar com as novas tecnologias, o futuro exige que nós, médicos, estejamos empenhados em formar parcerias sólidas para aproveitar o melhor das práticas multidisciplinares que caracterizam a medicina moderna.

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